A busca além do Google

Nessa edição #6 da Appetrecho, vou falar da vida digital para além do Google, em como podemos olhar para saídas desse grande monopólio do setor de busca.

Salve, moçada, Sérgio Spagnuolo aqui, passando calor e tomando chuva, e pensando que o ideal seria ou um ou outro (ou faz calor ou faz chuva, os dois ferra o rolê).

Queria agradecer muito pelo feedback da última newsletter, recebi várias mensagens legais e bons toques de melhoria. Não consegui responder direito todos os emails porque os replies do Buttondown (ferramenta de newsletters) vieram bugados, sem o email de quem estava respondendo, acho que já consertaram isso.

Um dos melhores feedbacks foi do Paulo, que me sugeriu “na medida do possível, que houvesse indicações de apps gratuitos, na mesma quantidade dos pagos”, assim como apps de Android na mesma medida do iOS. 

Acontece que quase todos os apps que eu sugeri (com algumas exceções) têm versões gratuitas, eu que fracassei miseravelmente em explicar. O Standard Notes, do qual falei na última edição, é um deles. Você pode usar ele de graça, agora (a versão paga tem algumas melhorias, como autenticador de outros serviços, folders e outras coisas.) De toda forma, peguei a letra e irei compensar isso.

Sobre a segunda demanda (Android vs iOS), vou tentar dosar, na medida do possível. Eu tenho um Motorola aqui e vou usar mais pra testar apps Android.

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A equipe do Núcleo Jornalismo vai selecionar as melhores respostas para aparecer na última newsletter do ano, dia 18.dez.2024. O tempo estimado de resposta são 30 segundos.

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Buscando sair do Google

Falar de mecanismos de buscas parece uma coisa meio arcana, uma caixa-preta que ninguém sabe como funciona exceto quem é muito nerd. Mas, em essência, não tem nenhum grande segredo: quanto mais você busca, mais eles ganham dinheiro. 

E o Google tem a chave desse cofre. Eu não to falando de MUITO dinheiro, eu to falando de um montante maior do que o PIB do Chile, uma das maiores empresas do mundo e um verdadeiro monopólio — não sou eu quem está falando isso, é a Justiça dos EUA.

De toda forma, esse mercado é tão grande, mas tão grande, que mesmo que o Google detenha inacreditáveis 90% de mercado, ainda sobre um quinhão grande para dezenas de outros mecanismos de busca.

Não são cinco ou seis concorrentes, mas sim dezenas. Tem até um buscador chamado Gopher, pelo amor das minhas cachorras (não recomendo). Aposto que você não utiliza o Bing, da Microsoft, mas esse mecanismo de busca faturou mais de US$12 bilhões em 2023.

Enfim, é um mercado gigantesco e por isso muitas empresas querem um pedaço, e aqui vou mostrar algumas das melhores alternativas ao Google.


Buscando Google melhorado

Para começar a jornada por outro buscador, a primeira pergunta a se fazer é: Por que sair do Google? 

É uma boa pergunta. Vamos ser sinceros: Google tem excelentes produtos, eu uso vários (Planilhas, Gmail, NotebookLM etc.). Não tem como fugir de todos, embora eu esteja cada vez mais tentando sair desse ecossistema (com tímido sucesso).

Mas o Google, segundo o governo e o judiciário dos EUA, se utiliza de práticas monopolistas para manter sua dominância no segmento de buscas e anúncios online, e ganha bilhões de dólares vendendo seus dados para que anunciantes possam enfiar anúncios invasivos e pesados em seus telefones, tablets e computadores. Esse é um. 

Outro argumento é que o Google está simplesmente pior. 

Não necessariamente ruim, mas pior do que era. Foi constatado que seus primeiros resultados pioraram muito, especialmente por causa de marketing de afiliados (ou seja, quem paga pro Google rankear) ou de spam impulsionado por SEO.

SEO é uma série de técnicas e parâmetros técnicos adicionados a um site para otimizar resultados em buscadores. A ideia era atrair tráfego qualificado, mas na verdade o SEO só ajudou a prejudicar o jornalismo e a aumentar a descoberta de sites aleatórios criados só pra encher linguiça com conteúdo lixo, repetitivo e não raro feito por IA, além de uma porrada de anúncios.

Faça um teste: busque no Google por “como declarar imposto de renda pela primeira vez”, e há grandes chances (nem toda busca é igual pra todo mundo) de vir um link de um site que você nunca ouviu falar, em vez do site da Receita Federal. 

Um estudo de quatro acadêmicos publicado em maio de 2024 na Open Search Foundation mostra uma prevalência significativa de conteúdo de baixa qualidade e spam impulsionado por táticas de SEO no Google. A queda de qualidade também foi apurada em Bing e DuckDuckGo.

Ou seja, o SEO está corroendo a qualidade da internet.


Assuma o controle das suas buscas

É por esse motivo que eu estou, cada vez mais, avaliando outros caminhos.

Se eu disser que não uso mais o Google para buscas, estarei mentindo. Ele é o buscador default no meu Safari – browser secundário que utilizo principalmente para leitura. O Google simplesmente funciona melhor com notícias, não tem o que fazer.

No entanto, no meu dia a dia, a partir do meu navegador Arc (quem leu a edição #1 sabe), utilizo uma combinação de DuckDuckGo com Perplexity.

Faz algumas semanas que tirei o Google e transformei o DuckDuckGo como meu buscador default (ou seja, quando vou na barra de busca, ele vai direto pro duck.com). Confesso que ainda estou me acostumando e que muitas vezes ainda recorro ao Google (o Arc permite alternar entre buscadores com extrema facilidade.)

Sim, como mencionei acima, o Pato também teve queda de qualidade, mas por ser bastante orientado a privacidade (uma preocupação grande minha) optei por seguir com ele.

Perguntei a opinião de Lucas Lago, nosso consultor de tecnologia aqui no Núcleo que usa o DuckDuckGo há anos como default.

Ele disse: “Eu uso mais por conta da iniciativa de haver um buscador que, por princípio, não se baseia em fazer tracking individual. E o apoio dado a iniciativas da EFF, do Tor, etc. são o que me convencem que a empresa não faz isso só pelo marketing (cof cof Brave). Atualmente tenho ficado chateado por eles terem colocado IA no navegador. Mas é opt-in, então há esperança.

Assim, quando eu preciso fazer buscas, eu recorro ao DuckDuckGo.

Busca com DuckDuckGo no Arc Browser

Quando eu preciso encontrar respostas, eu vou para o Perplexity, um buscador com inteligência artificial. É simplesmente bom (desculpa, Lucas).

Quando, em vez de explorar, eu quero ter a resposta logo ali na minha tela, pulando todo resultado lixo orientado por SEO (eu odeio SEO) que entope os buscadores, essa é a melhor opção.

Eu uso bastante, por exemplo, para saber trivialidades sobre séries que acompanho. Outro dia perguntei a idade da atriz Rebecca Ferguson, de Duna e Silo. E voilá, em segundos tava tudo ali.

Resultado de busca do Perplexity

Sérgio, mas você acredita em resultado gerado por IA?

Não, eu não acredito cegamente em respostas geradas por IA. Mas eu tampouco acredito no lixo impulsionado por SEO que o Google coloca lá no topo dos meus resultados, quase toda vez.

Eu acreditei na idade da Rebecca, mas se eu precisasse saber detalhes da tentativa de golpe na Coreia do Sul, eu iria ler a Associated Press ou algum outro veículo que confio (coisa tá feia lá).

Então você é a favor de IA utilizar conteúdo de veículos de notícia?

Eu acredito que empresas de IA, especialmente buscadores como Perplexity, deveriam pagar empresas de jornalismo por utilizarem seu conteúdo (assim como o Google deveria). No entanto, essa crença não evita que eu utilize ferramentas de IA (ainda), principalmente porque elas são muito úteis pra mim. Esse é um assunto bem recente para o qual ainda não há uma resposta definitiva.


Buscando alternativas

Há muitas dezenas de ferramentas de busca online por aí, mas as opções reais são poucas – especialmente para português. 

No exterior, tem muita gente falando agora do Ecosia, um buscador de “consciência ambiental” cuja empresa tem sede na Alemanha. Eu testei para resultados brasileiros (busquei por essa newsletter e pelo site do Núcleo), e sinceramente rolou legal. Eles fizeram recentemente uma parceria com o Qwant para criar um índice de busca europeu (eu usei o Qwant por um tempo em 2019, era massa, mas agora não pode mais ser acessado no Brasil – imagino que para cumprir com regulação de privacidade ou algo assim.) 

Há também o buscador norte-americano Brave (da mesma organização do navegador), que tem crescido em popularidade e inclusive sido utilizado como base para buscadores de IA. Ele foi primeiramente construído em cima do motor de indexação do Bing, mas agora é independente.

Tem ainda o holandês Startpage, que promete retornar resultados do Google, mas sem armazenar informações pessoais. Sinceramente esse eu testei bem pouco.

Eu entendo se você continuar usando o Google, é coisa demais pra cabeça. 


Ferramentaria

  • Cyd – Antes de Elon Musk destruir o Twitter, havia uma excelente ferramenta chamada Semipheral que permitia você ter mais controle sobre seus posts, apagando publicações indesejadas e mensagens antigas. Era excelente. Com o fechamento da API do X apenas para quem pagar uma fortuna, o Semipheral foi descontinuado. Agora ele (tipo ontem, 3.dez) retornou como Cyd, com app nativo para Mac, Windows e Linux. Negócio tá uma fineza. Ainda estou testando, mas já quis compartilhar.
  • Roots – Gostaria de sugerir isso pro meu sócio Orrico, usuário assíduo de Instagram. Comecei a testar o Roots na semana passada e consegui reduzir meu uso de celular de quase 4h por dia para 1h30. Inacreditável mesmo. O segredo: bloquear redes sociais. O Roots é um app que simplesmente bloqueia grupos de aplicativos (organizados por categorias). Ele coloca uma camada dura de fricção para impedir você de acessar certos apps durante períodos que definir. Disponível apenas para iPhone (desculpa usuários de Android, prometo que testarei alternativas pra vocês.)


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