Sua newsletter dedicada a coisas digitais

A newsletter absoluta sobre qualquer coisa que você instala no celular ou no computador, por Sérgio Spagnuolo.

Appetrecho

Blog + minimalismo = ❤️

Salve, galera, tudo bem? Por aqui a onda tá levando até camarão que não dormiu, tamanha a correria. Mas não posso reclamar, as coisas tão vingando aos poucos. Dia 24 de agosto embarco pros EUA, pra voltar só em junho. 

Prometi pra mim mesmo que vou ficar sem usar redes sociais nesse tempo fora. Meu sócio, o Orrico, duvida, mas eu vou tentar. O que pode acontecer é um acochambrado que já fiz antes: arrancar as redes sociais do celular e só usar no computador, o que reduz substancialmente meu uso.

Por falar em redução de celular, em janeiro falei do Roots, um app que bloqueia certos aplicativos do seu celular pra ajudar a reduzir o tempo de tela. Pois é, reduzi o uso do meu iPhone em inacreditáveis 60% – grande vitória.

Assinei o plano anual do Roots e cancelei logo na sequência pois achei que não fosse usar, mas sinceramente acho que vou renovar em dezembro.

Print do Roots mostrando queda de 60% do meu uso de tela em 8 meses
STATUS UPDATE
Antes de seguir, uma atualização sobre a última newsletter: estou trabalhando num site novo da Appetrecho, pra alinhar mais com as outras newsletters do Núcleo. 

No começo de setembro teremos casa nova, com vários benefícios pra apoiadores do Núcleo e assinantes avulsos. To ansioso!

Aguardem!

PS: aproveitei as férias da minha sócia Jade e consegui estender aquele desconto de 50% numa assinatura do Núcleo – mas essa é a última semana, não sei mais quanto tempo consigo esconder dela.Assinar Núcleo por R$55
no primeiro ano

Todo blogueirinho

Nunca fui blogger. Nunca tive essa gana, essa vontade de ter um blog para despejar meus pensamentos, ideias e alucinações.

Isso mudou esse ano, depois que meu cachorro, o Sabugo, faleceu. Eu já mencionei ele aqui várias vezes. Me desculpem se for repetitivo, mas o Sabugo era uma figura muito importante na minha vida e a perda dele foi mais dura do que eu poderia antecipar.

Pois bem, o Sabugo morreu dia 17 de fevereiro de 2025, e logo depois eu senti uma urgência grande de escrever sobre ele, uma mensagem pro meu menino, pra dizer que eu lembrava dele.

A ideia inicial era ter apenas um texto linkado no menu lateral do meu site, bem discreto, disponível apenas para os mais curiosos clicadores de links. Não falei pra ninguém, mandei esse link pra exatas zero pessoas. Tinha escrito pra mim.

E assim foi por uns meses, até que o Glitch, onde eu hospedava meu site, decidiu encerrar suas atividades.

Depois de fazer toda migração do meu site para o Github Pages, que eu gosto e não vai ser descontinuado tão cedo. Fiquei pensando comigo se não era hora de ter um blog, um lugar que eu pudesse escrever pra mim mesmo – mas se outros quisessem ler, bacana também.

A ideia de fazer no Github Pages não me agradou, já publiquei muito via site estático (o Núcleo nasceu em Jekyll), é meio burocrático demais pra um blog.

Pesquisando algumas plataformas, eis que me deparo com o Pagecord, o CMS mais minimalista que eu já vi, de código aberto e super barato pra versão hospedada. 

Dias depois de conhecê-lo, ele foi citado numa newsletter do Manual do Usuário, e, como bom leitor das coisas que o Rodrigo Ghedin publica, bati o martelo.


Minimalismo exagerado

Eu já escrevi na Appetrecho sobre meu apreço com o minimalismo de softwares, e o Pagecord é exatamente meu ponto.

Não tem muita coisa pra você fazer no Pagecord exceto publicar – especialmente na versão gratuita. 

Fora fazer posts, você consegue:

  1. escolher dentre alguns combos de cores pre-selecionados;
  2. setar a largura da coluna do seu blog (larga, padrão ou estreita);
  3. selecionar entre três tipos de tipografia (serifa, não-serifa e monoespaçada);

Basicamente esse é o máximo de customização visual que você pode fazer em seu blog. É muito libertador, especialmente pra mim, que desenvolvo os sites do Núcleo (inclusive saiu o site novo essa semana, veja lá), os quais, modéstia à parte, são bonitos e cheios de estilo.

No Pagecord, a única coisa que eu preciso fazer é escrever, que é o meu objetivo como recém-transformado blogueiro, aos 40 anos de idade.

Embora as customizações visuais sejam mínimas, o Pagecord tem alguns outros recursos administrativos legais (inclusive no tier gratuito), como tradução para português de 100% da interface, opção de remover agentes de IA de chupinharem seu conteúdo (via robots.txt), integração com Fediverso (que eu não uso), feed RSS e capacidade de exportar seu conteúdo com facilidade.

Para quem quiser pagar US$19 por ano (um achado), é possível utilizar domínio customizado e mandar uma newsletter semanal automática com seu conteúdo publicado na semana. Também dá pra colocar “likes” nos posts, embora isso seja uma bobagem (não faça isso).

Só se atente para uma coisa MUITO IMPORTANTE do plano gratuito: nele não é possível subir imagens, apenas no plano pago.

Se você quiser ver o meu blog, acesse aqui: https://notas.spagnuolo.news (já adianto que não tem muita coisa interessante, eu escrevo esses posts pra mim).

Print da tela de administração do Pagecord

Ferramentaria

  • tiiny.host – Pra quem quer minimalismo com bem mais de recursos, o tiiny.host pode ser uma boa opção. É basicamente uma ferramenta de hospedagem na qual é possível subir sites com extrema facilidade, além de fornecer um monte de outros recursos. Eu testei por quase um mês, mas para o que eu precisava, o preço não me atraiu. É uma opção pra quem quer simplicidade com mais robustez e não descarto usar mais pra frente.
  • Codepen – Eu sou assinante do Codepen há anos. Ele é mais uma interface online de programação web do que um servidor para hospedar seus sites customizados. Mas ele tem sim o Projects, no qual é possível subir sites bem complexos. Não recomendo pra quem não sabe programar nada.
  • Write.as – Essa é uma plataforma muito legal, mas sinceramente o custo/minimalismo não é digno pra quem paga em real. Custa a partir de US$6 por mês, o que não é cara, mas é bem acima do Pagecord por algo muito similar.
  • Listed – Eu já falei aqui do Listed quando escrevi (em novembro de 2024) sobre um dos meus apps favoritos até hoje, o Standard Notes. Sinceramente nunca usei, mas é mais simplório ainda que o Pagecord. Eu sou minimalista, mas acho nem tanto.

Um app sinistro em 30 dias

Salve, moçada, beleza? Por aqui tá tão sinistro que eu simplesmente esqueci de escrever a newsletter da semana passada, e por isso você está recebendo isso só agora.

Não foi por mal, mas semana passada talvez tenha sido uma das mais atribuladas do ano pra mim.

Como eu disse umas newsletters atrás, a Appetrecho vai mudar, e em breve traremos mais novidades.

Nesta newsletter #29, vamos falar sobre como foi construir o LegislatechAI, um buscador de legislações brasileiras com inteligência artificial. 


O LegislatechAI, pode ser acessado aqui Acessar buscador

O início (financiamento)

A gente já queria fazer algo com IA fazia um tempo, porém nós não tínhamos recursos para tocar um projeto desses. Felizmente, neste ano, conseguimos alguns recursos livres (ou seja, não atrelados a nenhuma demanda ou entrega) junto à Microsoft, que possui um programa para jornalismo. Recebemos um grant.

Como vocês sabem, o Núcleo aceita dinheiro de Big Techs para projetos que não envolvam produção de investigações. Isso não é segredo, está lá declarado na nossa política de financiamento do site (print abaixo) - toggle COMO NOS FINANCIAMOS.

Tem muita gente que torce o nariz pra isso, e eu entendo, de verdade. Mas a gente aqui consegue fazer isso com total independência. A gente não vai cobrir a Microsoft ou qualquer outra empresa de forma menos crítica por causa disso.

Print de tela da página do LegislatechAI

A concepção

Quando tivemos a sinalização de que os recursos de fato iriam entrar, começamos a pensar em como fazer isso de forma rápida e eficiente. Ora, nós já temos uma equipe in-house de tecnologia no Núcleo, com um CTO, um lead dev backend, um programador front-end e um programador backend/infra.

Mas a gente precisaria de mais duas pessoas se quiséssemos dar conta do recado sem terceirizar nada (já tivemos problemas com isso, agora gostamos de fazer o máximo possível dentro de casa).

Uma delas seria um desenvolvedor voltado exclusivamente para raspar e limpar os dados para que os outros desenvolvedores pudessem criar os embeddings e a RAG por trás da nossa ferramenta.

Também precisaríamos de um gerente de projeto que pudesse acompanhar cada tarefa, não importa quão pequena fosse.


A equipe

Eu fiquei de liderar o projeto todo, pessoalmente, amarrando todas as pontas.

O Felippe Mercurio, nosso CTO, foi o responsável pela coordenação técnica do projeto, garantindo que tudo seria implementado conforme nossos padrões, no tempo certo.

Héctor Moraes, que antes gerenciava nosso departamento comercial do Legislatech, assumiu como gerente de projetos, certificando que as coisas andariam dentro do prazo, registrando as tarefas e catalogando tudo para futura referência.

Michel Gomes, nosso lead dev de aplicações, ficou encarregado de fazer a engrenagem de IA funcionar, criando nosso RAG (Retrieval-Augmented Generation), basicamente o método pelo qual as informações da ferramenta foram criadas. Essa parte foi bem treta, com muito vai e vem e testes. Usamos GPT-04-mini como modelo por trás do app.

O nosso outro dev, Henrique Rieger, além de ajudar o Michel, certificou-se de que a infraestrutura estava apta, com todos os elementos (desde o banco de dados até a interface de aplicação) alinhados.

Daí entra Rafael Calpena, o nosso xamã do front-end, que utilizou o framework assistant-ui para construir e customizar a interface da aplicação em cima das APIs que o Michel criou. 

Por fim, a gente precisava de dados de todas as legislações federais vigentes, e foi tarefa do nosso frila Lucas Bueno de coletar e limpar todos esses dados.

A identidade visual é de Rodolfo Almeida, e o suporte institucional é de Jade Drummond, Milena Giacomini e Aleksandra Ramos.

Quase todo mundo do Núcleo participou desse projeto.


O resultado

No começo a gente chamava o LegislatechAI de chatbot, mas por fim começamos a perceber que está mais para um mecanismo de buscas do que para um robozinho amigo. 

pergunta ao bot: em apenas um parágrafo, o que acontece comigo se eu traficar um animal silvestre? Resposta: Se você traficar um animal silvestre, poderá ser penalizado com detenção de seis meses a um ano, além de multa, conforme a Lei nº 9.605/98. A pena pode ser aumentada se o crime envolver espécies ameaçadas de extinção ou se for cometido em circunstâncias agravantes, como em áreas de proteção. Além disso, a lei prevê que quem impede a procriação da fauna ou modifica seus habitats também incorre nas mesmas penas.

Ele é como é por design, seja para evitar outros usos que não prevemos, seja para economizar recursos. 

Por exemplo, ele não tem “memória”. Se você perguntar algo na sequência de outra pergunta, ele não sabe o que foi dito antes. Fizemos isso porque não tivemos tempo de entender as consequências de perguntas em cadeia, nem quanto isso iria custar. Sem contar a complexidade de implementação. 

Também tornamos o app bastante “seco”, sem personalidade nem dar muita bola para ser amigo. A ideia é que as pessoas entrem lá para fazer boas consultas de legislações, não como uma forma de entretenimento.

Por fim, também desabilitamos a capacidade de o modelo de linguagem dar respostas que não estão previstas nos dados que temos, o que ajuda a reduzir alucinações da ferramenta – embora sim, o bot está sujeito a erros, embora, em nossa testagem extensiva, tenhamos encontrado poucos.

pergunta ao bot: qual a diferença entre o charme e o funk? resposta: Desculpe, mas não posso responder a essa pergunta. Se precisar de informações sobre leis ou cultura, estou à disposição!

O resultado disso tudo foi uma ferramenta inédita, específica e visualmente bonita. Pode não estar perfeita, mas convido você a testar e deixar suas impressões.

Vale notar que todos os dados e códigos desse projeto são abertos e disponíveis gratuitamente.

Uma gotinha de esperança digital

Salve, moçada, tudo em riba? Tô resgatando aqui uma expressão que meu pai sempre usou e que eu nunca parei pra pensar no que significava. Uma busca simples no DuckDuckGo me mostrou que “riba” significa algo mais alto, em cima, elevado. Ou seja, “tudo em riba” basicamente significa “tudo em cima”.

Falando do meu pai, alguns de vocês podem lembrar que eu já mencionei o Sabugo por aqui, nosso cachorro que morreu em fevereiro. Eu e o Sérgio Pai já perdemos outros cachorros ao longo dos anos, mas a passagem do Sabugo foi particularmente dura para nós.

Meu pai ficou particularmente carente, depois de 40 anos diretos vivendo com cachorros. Pois bem, ontem, NA RUA, meu velho foi adotado por outro doguinho, que veio atrás dele numa noite de frio. Hoje fomos levar o bendito pra tomar banho, vacinas e comprar appetrechos


A obliteração marcou demais

Eu falei aqui na edição #26 sobre como alguns apps que eu gosto estão sendo descontinuados – Arc, Glitch e o Pocket. Um amigo me chamou de “dramático” por eu ter falado em “obliteração e destruição”. Errado ele não tá, mas eu sinto o que eu sinto.

Mensagem enviada pelo meu amigo me chamando de "dramático"

Para navegador, eu estou gradualmente migrando de volta pro Safari (desculpa Vivaldi, não é você, sou eu). Para substituir o Glitch, vou me concentrar no Codepen. Faltou, então, trocar o Pocket, onde eu guardei links durante exatos 10 anos.

Minha busca começou pelos suspeitos principais, que eu listei aqui na edição #11, de janeiro deste ano: 

ReadwiseInstapaperRaindropMatter e PaperSpan.

Readwise é legal, mas ainda tá na versão beta, e eu já sou veterano de salvar links, eu quero a versão top. Instapaper é bem conhecido (acho que um dos mais antigos do tipo), e muito massa, mas simplesmente não me cativou, apesar do minimalismo que eu gosto.

O Matter, disponível apenas para iPhone, é tubarão, porém caro para um caralho (R$50/mês para salvar links é osso, sem versão free). O PaperSpan eu nem cheguei a testar porque eu tenho outras coisas pra fazer com a minha vida.

Decidi ficar mesmo com o Raindrop. 


Um banho de gotas

O Raindrop é um app completo que faz uma coisa muito simples: ele salva links. O jeito natural como ele funciona realmente ressoou comigo. 

Como bom usuário do leitor de RSS NetNewsWire, achei o visual do Raindrop muito similar, seja na forma de organização, nos recursos gratuitos ou na simplicidade de apresentação.

Dá pra fazer muitas customizações visuais, mas nada que vá tomar muito seu tempo, algo que eu prezo bastante em apps.

Print de tela do Raindrop

Mais importante: foi muito rápido e fácil importar todos os meus links do Pocket direto pro Raindrop, ele já tá pronto e preparado pra isso.

Outra coisa bacana é a extensão pra navegador: funciona bem, é útil, fácil de usar e bem intuitiva (to usando no Safari e no Arc). 

Eu gostei também da integração com o Raycast, que me permite com apenas um clique salvar qualquer link, em qualquer navegador, a qualquer hora. (Continuo firme e forte com o Raycast.)

Até agora só usei a versão gratuita do Raindrop, e tem me atendido bem. Por R$17/mês, dá pra destravar outros benefícios, como busca avançada, anotações, lembretes, checagem de links duplicados, entre outras coisas. Ainda não sei se vale a pena, porque, como eu disse, eu quero uma funcionalidade simples: arquivar meus links.

Se eu fosse você eu tentaria usar o Raindrop.


Ferramentaria

  • Are.na — Esse é um app estranho, utilizado por mais de 30 mil pessoas. Ele serve, basicamente, pra você criar e mostrar coleções de coisas na internet. Confesso que não entendi o apelo. Se você testar e gostar, me mostre e tente me convencer a dar outra chance.
  • Manus — Mais uma ferramenta de IA agente, que tenta fazer coisas por você. Tá cheio por aí. Achei o design bem elegante, mas um teste rápido me mostrou que, fora a apresentação bonita, não tem nada muito de diferente. Custa US$19/mês.

Usar IA sem perder a crítica

Salve, moçada, tudo bem? Por aqui a correria tá gritante, e imagino que por aí também. Do meu lado, semana passada teve o Festival 3i, da Ajor, no Rio de Janeiro. Foi bala.

Teve jornalismo, networking, cerveja (muita), burrata e minha sócia Jade Drummond pedindo uma comida que lá no Rio de Janeiro chamaram de pizza – mas em São Paulo aquilo é apenas um disco assado de farinha com queijo e tomate, não dá pra considerar pizza. (Já consigo ouvir meu outro sócio, o Orrico, espumando sangue pela boca de ódio por causa desse comentário típico de um paulistano mala).

Na edição #27 vamos falar sobre como evitar cair tanto no hype quanto no pânico do uso de inteligência artificial, a fim de que você possa tirar o melhor proveito dessa tecnologia sem perder a crítica.

Esse texto foi primeiramente publicado no site do Núcleo, e está sendo reproduzido aqui. Na próxima edição eu vou falar sobre a ferramenta que, pra mim, substituiu o Pocket.

Ainda nesta edição, temos o primeiro anúncio já feito na Appetrecho. Quem nos conhece sabe que o Núcleo gosta de fazer anúncios para pequenas empresas brasileiras, que tão aí ralando igual nós.


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Não seja um deslumbrado(a)

Desde o lançamento do ChatGPT, da OpenAI, no fim de 2022, vejo recorrentemente nas redes sociais dois tipos de pessoas: 1. aquelas deslumbradas com inteligência artificial generativa que mal podem esperar para se entupir desses recursos e 2. aquelas que desprezam esse avanço tecnológico com todas as suas forças e fogem da mera menção do termo IA.

Uma coisa que eu aprendi nesses últimos anos: IA generativa pode ser útil se você souber usá-la sem ceder ao deslumbre e ao exagero. Eu, por exemplo, uso o Claude, da Anthropic, rotineiramente no meu dia, para coisas como programação, checar ortografia, formatação de dados e refinar meus textos, especialmente em inglês. Às vezes uso Perplexity para buscas coisas específicas.

Mas eu evito entrar muito de cabeça nesse mundo, sem ver o que está na minha frente. Nunca me esqueço de quem são as empresas megazórdicas por trás dos modelos, do impacto social e ambiental da IA, da falta de regulação, do impacto na desinformação e da pressão insistente e descarada para impregnar todos os produtos digitais (mesmo os que não precisam) com essas novas tecnologias.

Espero que os pontos abaixo lhe ajudem a usar e se beneficiar dessas ferramentas sem perder a crítica do que elas são e a quem pertencem.


1. Use com moderação

🗨️ ARGUMENTO

Você não precisa usar IA para absolutamente tudo. Além da questão de precisão de informações e dados, as ferramentas de IA tendem a escrever textos genéricos, sem personalidade, com uma estrutura bem engessada. Pessoas espertas conseguem identificar isso com razoável facilidade e preferem coisas originais do que sintéticas.

⁉️

QUESTIONE-SE
Será que você quer que um agente de IA escreva uma mensagem de aniversário pra sua mãe ou dê conselhos veterinários sobre seu cachorro? Você precisa ilustrar seus posts no LinkedIn com arte genérica feita por IA? Você acha boa ideia mesmo pedir pro chatbot escrever uma carta de apresentação a um potencial investidor ou empregador?

🧠 TENHA EM MENTE
Há sim vários usos muito úteis, como: resumir documentos, checar gramática, fazer pesquisa, sugerir ideias, traduzir textos, formatar dados, desenvolver automações, programar e fazer pesquisas, entre muitos outros – sempre levando em conta que essas ferramentas frequentemente mentem ou erram grotescamente.


2. IA para humanos, não em vez de humanos

🗨️ ARGUMENTO
Não há como evitar: os chatbots de IA possuem limitações reais, por mais que você ache utilidade neles. Essas limitações incluem alucinações frequentes (quando os modelos inventam coisas), limites de uso (afinal, custa caro processar monstruosos volumes de dados), incapacidade de realizar tarefas simples, insistência em soluções erradas e a pura e simples padronização textual.

⁉️ QUESTIONE-SE
Você realmente acha que modelos de IA conseguem fazer seu trabalho melhor do que você? Você vai confiar uma parte importante da sua vida aos resultados de uma tecnologia que constantemente mostra sinais de alucinação? Como a automatização de tarefas pode ajudar sua vida?

🧠 TENHA EM MENTE
Embora os modelos tenham muito mais conhecimento do que os seres humanos, eles não conseguem pensar em problemas reais e, portanto, não têm capacidade de lidar com todas as ramificações e decisões que a vida nos exige diariamente.

Seu uso de IA generativa vai ficar muito melhor quando você perceber que, em vez de lhe fornecer soluções, essas ferramentas podem apresentar caminhos e melhorias para o seu trabalho, mas não fazer o trabalho em seu lugar, com a qualidade e a consideração necessárias. IA pode ser uma extensão para melhorar seu trabalho, não para resolver todos os seus problemas.


3. Evite humanizar a IA

🗨️ ARGUMENTO
Você ficaria de conversa com o seu carro? Humanizaria o seu teclado? Ou, até mesmo, tem trocado ideias com sua Alexa? Sim, de fato essas coisas não respondem de volta como um chatbot, não têm "personalidade".

Mas se você levar em consideração que os modelos de IA são, de maneira bem primitiva, probabilidades estatísticas complexas de uma palavra suceder a outra em um certo contexto, então conversar com seu chatbot pode ser quase a mesma coisa que falar com um dispositivo (ao menos por enquanto).

⁉️ QUESTIONE-SE
Você realmente acha que seu chatbot tem vontade própria? Acredita que ele tenha consciência? Quanto mais você pensar nisso, mais fácil será você encarar a IA pelo que ela realmente é: uma ferramenta com muito conhecimento, mas sem vida.

🧠 TENHA EM MENTE
É OK você ficar trocando ideias com chatbots de IA se for algo para divertir, entreter ou instruir. Apenas leve em conta que usar essas ferramentas consomem significativa energia e água em seus data centers. Verdade seja dita, outros serviços digitais, especialmente streaming, também drenam bastante recursos naturais. Não precisa evitar de usar nada, apenas tenha em mente isso tudo antes de ficar de bobagem com IA.


4. Seja crítico com as empresas

🗨️ ARGUMENTO
Google, Meta, Amazon, Microsoft, NVIDIA, Apple e outras: algumas das principais empresas desenvolvendo e usando inteligência artificial também são as maiores corporações do mundo, e já possuem impactos significativos na sociedade.

Essas empresas usaram todo o conteúdo da internet sem permissão de autores e têm demitido milhares de pessoas por conta de mudanças estratégicas, além de seus produtos estarem mudando a natureza de muitos trabalhos modernos.

⁉️ QUESTIONE-SE
Por que você acha que Meta e Google, por exemplo, estão entupindo todos os seus produtos com IA? Como os avanços no setor de inteligência artificial servem para substituir o trabalho humano? Por que essas empresas estão usando materiais protegidos por direitos autorais sem recompensar os autores?

🧠 TENHA EM MENTE
É importante sempre levar em conta os problemas da concentração de poder, dinheiro e recursos, mesmo frente a potenciais benefícios que podemos colher com essas tecnologias.


Ferramentaria

  • Dia Browser — Eu já falei aqui do Dia, o navegador da Browser Company que vai substituir meu querido Arc. Pois bem, a empresa abriu os testes beta para membros do Arc (ou seja, aqueles tem fizeram cadastro). Eu usei algumas vezes, não me cativou, mais pra frente tentarei de novo e aviso por aqui.
  • SynthID — Ferramenta do Google para tentar criar marcas d’água e identificar conteúdo gerado por inteligência artificial. Se funciona, o tempo dirá.

Estão matando meus apps

Salve, moçada, tudo bem? Por aqui vamos levando. Trabalhando pesado em um projeto do Núcleo que espero anunciar em breve, comemorando o aniversário da Sra. Minha Esposa (foram três celebrações em duas cidades diferentes) e lidando com a recuperação da minha casa, que foi alagada há duas semanas por conta de um cano quebrado (felizmente não foi gigante o prejuízo, mas houve perdas).


Destruição e obliteração

Eu gosto de apps, e às vezes eu gosto tanto deles que abandono todos os outros. Foi o que me levou a largar o Safari e usar o Arc como meu navegador principal. Não à toa que minha primeira Appetrecho ever, no fim de outubro do ano passado, foi sobre ele. 

Pouco antes de publicar aquela newsletter, o CEO da Browser Company, Josh Miller, anunciou o desenvolvimento de um novo app, o navegador Dia (link na seção Ferramentaria), e que pararia de colocar recursos no Arc. Logo, não foi surpresa saber que a empresa agora vai parar o desenvolvimento do Arc, conforme anúncio feito aqui

Não foi surpresa, mas é triste.

Largaram o desenvolvimento de um excelente produto para se concentrar em mais uma aplicação por IA. Tenho acesso ao Dia, tentei usar por uns dias, mas sinceramente não me cativou – nada mais é do que um chatbot de IA com capacidades de navegação web.

Agora, em vez de migrar pro Dia, eu vou infelizmente voltar ao Safari, ou arriscar o Opera ou o Vivaldi, que são bons navegadores, mas sinceramente não vejo tanta vantagem em usá-los. Poderia ir pro Firefox, mas com a Mozilla matando diversos de seus apps e sob ameaça existencial (a organização é paga para ter como buscador default o Google, que nesse momento passa por um julgamento concorrencial), não sei se é o melhor momento.

Logo, como usuário de Mac, me resta voltar ao Safari para ter o mínimo de integração com meu celular (o navegador mobile do Arc é – ou era – show).

Falando em Mozilla, a organização fez o favor de matar o Pocket, com fim programado para outubro. Eu, inclusive, escrevi sobre essa aplicação aqui em 22 de janeiro deste ano. É um app que eu adoro e uso desde 2015, mas que agora será descontinuado para que a Mozilla possa se concentrar no Firefox. É dureza, mas preciso dizer que entendo, especialmente num momento delicado pra organização.

Outro app que eu gosto e que vai mudar é o Glitch, um serviço de hospedagem de apps e sites. A empresa anunciou na semana passada que vai encerrar suas atividades de hosting. Quem leu meu tutorial de abril deste ano explicando como montar um site pessoal com IA sabe do que estou falando.

Eu entendo que produtos vão e vem, mas é sempre difícil ver apps que eu gosto e uso muito serem descontinuados. Quem sabe abrirão lugar para novas coisas, mas o gosto meio amargo de perder encarecidos recursos digitais fica na boca. 

Ferramentaria

  • Dia — Novo navegador da Browser company. É legalzinho, não me cativou. É elegante e rápido, mas é essencialmente um chatbot de IA, não um navegador, e embora eu goste de chatbots, o que eu quero e preciso é um navegador.
  • DB Browser — Em razão de alguns novos projetos, voltei a usar essa semana um app que conheço há muitos anos, mas havia me distanciado. O DB Browser é uma interface para criação e manipulação de bancos de dados SQLite, um meio termo entre bancos de dados robustos e tabelas de Excel/CSV. É muito bom, leve e, acima de tudo, gratuito.
  • Postico 2 — Falando em banco de dados, eu sempre gostei de usar bancos de dados Postgres, e o cliente de minha escolha é o Postico 2, exclusivo para Mac. Não é gratuito, mas é muito bom e me quebra o galho há anos.

Algo bom às vezes fica melhor

Salve, moçada, tudo certo? Por aqui a vida anda ocupada, mas eu sei que não é diferente aí pra você. Entre minha casa ser alagada por conta de um cano quebrado, o Celtics tomar surras vergonhosas do Knicks, negociações de novos projetos pro Núcleo, fazendo um grande rolê para pegar meu passaporte e o anúncio de que passei em uma fellowship, ainda teve aniversário do meu pai, ajudar minha mãe com o pé quebrado e cuidar das cachorras (prioridade 1). E você, o que rolou na sua semana? 

Falando dessa fellowship, a partir de meados de agosto eu vou me afastar um pouco do dia a dia do Núcleo, mas quero continuar escrevendo esta newsletter. Talvez ela seja menos sobre apps e mais sobre tecnologia em geral, um lugar no qual publico comentários sobre aplicações, internet, IA e outras coisas que usamos todos os dias. Ainda estou pensando o que fazer. Se você tiver alguma ideia, conte pra mim.

Você pode não ter notado, mas nas mais de 20 edições da Appetrecho eu raramente falei das aplicações desenvolvidas aqui por nós do Núcleo. Essa não é uma news pra fazer jabá do nosso trabalho. 

No entanto, na edição #25, sinto que preciso falar da reformulação do nosso principal app, o Legislatech, e como essa ferramenta é uma excelente opção para você fazer monitoramento de documentos públicos no Brasil de forma fácil e barata.


Começando do começo

O Legislatech nasceu em 2022 como um projeto interno do Núcleo para monitorar políticas digitais no legislativo federal, influenciado pelo projeto Elas no Congresso, das nossas parceiras da Revista AzMina, mais especificamente da minha amiga Bárbara Libório.

Na época conhecido como Legislaredes, o app foi tão útil internamente que pensamos em expandir para outras áreas, operando por meio de parcerias. À medida que avançamos nesse plano, fomos percebendo que a ferramenta não deveria ser um serviço, mas sim um produto, para que qualquer um pudesse se cadastrar e usar na hora, sem burocracia, sem passar por representantes de vendas, só logar e começar a usar.

Foi daí que, em julho de 2023, lançamos o mínimo produto viável do Legislatech. À época, eu e minha equipe de tech — Felippe (CTO), Michel (lead dev), Henrique (infra dev) e Heloisa (designer) – começamos a desenvolver um app simples, meio desengonçado e ruim de usar, com a intenção de testar a ideia e, com sorte, avançar com o produto. 

Daí pra frente teve muito chão.

Tivemos a grande felicidade de receber um grant institucional da Luminate, o que nos deu um gás financeiro para continuarmos tocando o produto em 2024.

Contratamos um desenvolvedor front-end muito bom, o Rafael, que usou toda arquitetura de dados construída pelo Michel e a interface desenhada pela Helô para fazer um painel de dados fácil, simples e bonito – algo que, pelo menos até onde vai meu conhecimento, nenhuma outra solução de monitoramento do tipo oferece.

Com isso a aplicação tomou uma nova cara, mais profissional. Finalmente a ferramenta estava pronta para o estágio que chamamos de “produção” (ou mais pronta possível, claro).

Muitos dos nossos concorrentes cobram mais de R$2.000 por mês (já ouvi casos que passam de R$10 mil/mês) para fazer monitoramentos complexos que precisam ser acompanhados por analistas dedicados. São bons serviços, claro, mas funcionam mais como consultorias com valores inviáveis para pessoas físicas e pequenas organizações.

A gente foi na direção oposta: o Legislatech pode ser contratado por menos de R$10 por mês. Isso se deve, em boa parte, à fantástica infraestrutura implementada pelo Felippe e pelo Henrique em 2024, que nos permitiu reduzir significativamente nossos custos com servidores e oferecer preços mais baixos.

Descomplicando

Eu não vou explicar aqui toda a história das regras de negócios do Legislatech – a gente já mudou um monte de coisa nelas. Vou apenas falar como estão agora e como estavam imediatamente antes.

O nosso modelo antes era baseado numa combinação arcana de número de órgãos monitorados, total de termos que o usuário pode acrescentar e uso de integrações e disparo de relatórios. Era muita coisa pra a cabeça dos nossos usuários. Boa parte do nosso público-alvo são pessoas físicas e pequenas organizações, que frequentemente não têm o luxo de contratar analistas específicos ou de ficar decifrando benefícios.

Nossas pesquisas internas, realizadas pelo nosso colaborador de desenvolvimento de negócios, o Héctor, mostrou que uma das coisas que mais acrescentava valor para os usuários era o poder monitorar vários órgãos e fontes de dados ao mesmo tempo, assim como ter acesso retroativo à nossa base de dados.

Foi por isso que, no começo de maio, fizemos uma grande reformulação do nosso modelo de negócios, passando a disponibilizar todas as bases de dados que monitoramos para todos os usuários, acrescentando o máximo de utilidade para eles. Uma vez que muitas dessas pessoas passam a ver valor na aplicação, elas tem o potencial de pagar para monitorar cada vez mais palavra-chaves.

Não deu outra, em poucos dias o volume de usuários que se cadastraram no Legislatech saltou cerca de 10%. Agora, neste momento, o Legislatech tem cerca de 1.100 usuários, entre pagos e gratuitos, e cresce mais todos os dias – avançamos em uma semana o que levava meses.

Em breve vamos ter mais coisas legais para anunciar, novas bases de dados, novas aplicações dentro do Legislatech e, quem sabe, internacionalização das bases. Fique de olho.


Ferramentaria

(Já que eu abri as portas do jabá, seguem outras ferramentas do Núcleo)

  • Xarta — Esse é um mini CMS que desenvolvemos a partir da plataforma open source Ghost, e que ajuda publicações online a manterem seus conteúdos sempre atualizados. Funciona assim: você cria um conteúdo no Xarta, tipo o contexto de uma reportagem, e a ferramenta gera um embed pra você colocar na sua publicação. Toda vez que você alterar esse contexto, ele vai refletir a mudança em todos os lugares que aquele embed está, evitando que você precise atualizar muitos links diferentes.
  • Calculadora de Streaming — Desenvolvi esse app no começo do ano porque eu estava ficando maluco com a quantidade de serviços que eu estava pagando. Sinto que preciso atualizar os preços de novo, mas vale a pena você conferir.

IA em tudo, toda hora (que merda)

Salve moçada, tudo bem? Por aqui tá beleza, com uma dor no punho que não vai embora há semanas, depois de ter dado um mal jeito na mão para evitar que a Cocada fosse atacada por outra cachorra na rua. Tá tudo bem com ela.


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IA não é sua amiga

Na terça-feira, 29 de abril, Mark Zuckerberg anunciou o lançamento do Meta AI, basicamente um concorrente de apps como ChatGPT, Gemini, Perplexity, Claude e outros aplicativos de inteligência artificial, nos quais é possível “conversar” com um bot. 

Para mim, o principal problema desse tipo de aplicação não é que há muitas delas (existem centenas ou milhares delas), mas sim a forma como algumas empresas, como Meta, OpenAI e Google “vendem” isso para nós. Esses chatbots são apresentados, principalmente, como um recurso de bate-papo, quase amizade, para conversar sobre a vida e trocar ideias sobre o Império Romano e produção artesanal de cerveja.

Essa abordagem corporativa mascara, seja por marketing ou por limitações técnicas, algo mais simples que esses apps realmente deveriam ser: ferramentas de produtividade, programação, busca online etc.

Isso parecer ter pouco valor para algumas empresas. A concorrência e o desespero para crescer a base de usuários são tão gritantes que o apelo de “companheiro de IA” tem sido alardeado como se fosse uma grande ideia.

Talvez seja por isso que eu goste mais do Claude e da Perplexity, pois não vendem a pretensão de fazer amizade com um modelo de linguagem.

Não há nada inerentemente errado em usar essas ferramentas para conversar – exceto, talvez, pelo consumo excessivo uso de água e energia, o potencial de alucinação e possibilidade de viciar do usuário (só isso). Há, por exemplo, relatos de que apps como o ChatGPT podem ajudar pessoas autistas a se comunicar.

E esse é realmente o ponto: queremos que chatbots de IA simplesmente façam nossa vida melhorar. Mas as empresas, embriagadas por seu próprio desenvolvimento tecnológico, continuam pressionando por mais.

Às vezes acho que fazem isso para que não percebamos que essas ferramentas, embora potencialmente úteis, sejam extremamente limitadas e que, se a enxergarmos como amigas, talvez possamos dar uma chance a elas. Não é de se espantar que alguns dos melhores exemplos de uso de IA para o bem não são de chatbots.

Os sinais estão todos lá: a OpenAI precisou reverter uma atualização do ChatGPT porque a personalidade do bot estava “excessivamente lisonjeira ou agradável – muitas vezes descrita como sicofântica (que elogia demais)”. Isso veio após todo o fiasco da emulação do filme Her, quando a empresa lançou seu modal de voz e queria impressionar as pessoas com um bot charmoso.

Já a Meta foi acusada de tentar engambelar uma prova de qualidade de um novo modelo de IA, disponibilizando para testes uma versão mais amigável e lisonjeira, diferente daquela oferecida para os consumidores.

O Google, por sua vez, está trabalhando num app do Gemini para crianças abaixo de 13 anos.

E não esqueçamos de quando a Microsoft lançou seu chatbot Sidney, que tentou fazer um jornalista largar a esposa para ficar com ela.

Tais exemplos, entre outros, só mostram a necessidade dessas empresas de que pessoas passem horas e mais horas conversando com chatbots, como se nossa sociabilidade dependesse disso. É por isso que toda barra de busca atualmente, pelo jeito, é um atalho para falar com IAs.

O ser humano, em geral, não quer ser amigo de bots (bem, talvez algumas pessoas queiram), precisamos que eles nos ajudem a encontrar informações ou a realizar tarefas, independentemente do motivo (curiosidade, trabalho, entretenimento etc.).

Eu não sou contra IA. Pelo contrário, uso bastante para coisas como programação e revisão gramatical, mas eu não fico perdendo tempo conversando com chatbots para além do que sinto que preciso. Afinal, esses são serviços digitais que emulam respostas humanas e precisam ser encarados com as ferramentas que são, e não como pessoas.

Vem daí minha irritação com quem usa ferramentas de IA para escrever mensagens pseudo-personalizadas para outras pessoas.  

Outro dia estava lendo um bom texto do jornalista Rodrigo Ghedin, no Manual do Usuário, e me deparei com uma ideia que há tempos venho pensando, mas não havia conseguido articular com eficiência: “Quem quer ler algo que outra pessoa não quis escrever?

Mensagens de origem sintética só servem para banalizar algumas relações humanas que a gente precisa cultivar. Usar texto formulado por IA para se comunicar com outro ser humano apenas mostra que estamos cedendo aos casos de uso empurrados por empresas cujo único incentivo é monetizar nossa atenção.


Ferramentaria

  • Raycast para iOS – Quem me conhece sabe que eu gosto muito do Raycast. É uma baita ferramenta para Mac (em breve para Windows), e que agora ganhou um app para iPhone. Mordo minha língua para falar que esse é basicamente um chatbot de IA e notas, pelo menos por enquanto.
  • Claude Code — Tenho usado para alguns projetos menores essa ferramenta da Anthropic que, via terminal, busca entender o código do seu projeto e melhorar algumas coisas. Admito que em um dos casos que eu usei ele na verdade piorou meu resultado, mas dou o benefício da dúvida porque eu admito não ter dado orientações específicas pra ferramenta 🤷.

Sua central de controle de filmes e séries

Salve, moçada, tudo bem? Por aqui estamos levando, como sempre. Minha companheira canina, a Patela, completou 6 anos no último sábado (12 de abril) e me peguei refletindo sobre como o tempo passa rápido. Parece que ontem ela era apenas uma pitoca medrosa, e hoje é uma medrosa de 13kg.

Tenho algumas atualizações importantes: a partir desta edição #23, a Appetrecho será quinzenal, para dar um respiro na minha agenda que anda sobrecarregada ultimamente. Para quem não sabe, além de redator desta newsletter, também sou diretor-executivo e estagiário do Núcleo Jornalismo, uma organização com 15 pessoas.

Desde o lançamento, enviamos 21 newsletters e um anúncio de lançamento, alcançando uma taxa de abertura média de 56% (bem acima da média de newsletters jornalísticas, que fica abaixo de 30%). Este boletim já foi lido 16.774 vezes por quase duas mil pessoas, com apenas um único cancelamento de inscrição. Se tiverem interesse em conferir esses dados de analytics, disponibilizei tudo nesta tabela.

Nosso crescimento foi acelerado no início (alcançamos 1.000 inscritos em menos de um mês), mas perdeu fôlego com o tempo, principalmente porque não tenho promovido tanto quanto no começo.

É por isso que peço a vocês: se gostam da Appetrecho, indiquem-na para outras pessoas. Basta enviar o link appetrecho.com e dizer "olha, [NOME DA PESSOA], essa newsletter é show e gratuita". Faz uma diferença enorme esse tipo de recomendação.


O poder do conhecimento cinéfilo

Conta a mitologia grega que Zeus estava um dia sozinho no Olimpo, entediado e irrequieto. Hera, conhecendo bem o senhor seu marido, sugeriu-lhe que buscasse uma atividade para se ocupar. Zeus então respondeu: "Eu, o rei dos deuses, sinto um desejo mortal... de assistir televisão, mas tem muita coisa para escolher e não quero ficar zapeando".

Como meu camarada Filipe Speck, do excelente podcast Noites Gregas, pode confirmar, o episódio acima realmente consta na Ilíada, em uma passagem perdida entre os Cantos 17 e 18.

Se Zeus vivesse no século 21, ele não enfrentaria esse problema que muitos de nós conhecemos bem.

Não sei você, mas sou um espectador regular de filmes e séries – a ponto de comprometer o andamento da minha lista de leitura (estou tentando equilibrar melhor isso). Já fiz listas mentais, em apps de notas, cadernos e folhas avulsas de sulfite com filmes e séries que já vi, gostei ou que pretendo assistir.

O problema é que existe MUITA coisa interessante disponível, e até agora eu não havia encontrado um app eficiente para gerenciar meus interesses.

Você pode conferir nossa Calculadora de Streamings para estimar quanto custaria assinar os serviços que você deseja (são dezenas de opções).

Em meio a toda essa abundância, é mentalmente desgastante gerenciar o que você já viu ou o que quer ver. Outro dia não conseguia lembrar se tinha assistido a todos os episódios de Mr. Robot, nem o nome de um filme que me interessou após ver o trailer (era o excelente Black Bag).

Foi por volta de dezembro que conheci o JustWatch, um app que combina catálogo, guia (inclusive de esportes), listas e avaliações. É como um IMDB aprimorado, cuja versão web é tão eficiente quanto a versão mobile.

Era exatamente o app que faltava para minha organização pessoal de streaming e cinema.

Um dos recursos mais valiosos é a capacidade não apenas de encontrar um título que você quer assistir, mas também descobrir em qual dos numerosos serviços de streaming ele está disponível. Isso tem um valor imenso, especialmente quando me lembro do tempo que já perdi pulando de um streaming para outro tentando encontrar algo para assistir.


Ferramentaria

  • Raw Graphs – Muitos anos atrás eu usava a primeira versão do Raw para treinar habilidades de gráficos. Já era uma boa ferramenta, mas esse Raw 2.0 é ainda mais legal, gratuito e serve pra ajudar qualquer pessoa que queira entrar na área de jornalismo de dados.
  • Tables Generator – Nessa linha de jornalismo de dados, esse é um app antigo que eu uso há pelo menos uma década e que transforma um tipo de tabela em outro. É incrivelmente útil, especialmente pra quem programa ou escreve com Markdown.

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