A jornada pelo publicador ideal

Nessa edição #4 da Appetrecho, vamos falar sobre os melhores lugares para publicar na internet – para além do Wordpress.

Salve, moçada, Sérgio Spagnuolo por aqui. Feriado nacional, 20 de novembro, dia importante para relembrar a história, e recomendo esse texto no site Alma Preta para quem quiser saber mais.


O CMS para além do Wordpress

Publicar na internet foi ficando mais fácil, à medida que os CMSs (sistemas de gerenciamento de conteúdo, ou publicadores) se tornaram relativamente mais simples usar, novos serviços por assinatura foram surgindo e os preços de hospedagem foram caindo. 

Entre esses sistemas, um impera isolado: o Wordpress. Criado em 2003, estima-se que o Wordpress tenha se tornado o motor de nada menos do que insanos 44% de todos os sites na internet. Open source, fácil de instalar e com ampla oferta de prestadores de serviço, essa plataforma se solidificou como o default para publicações. 

Mas há um universo inteiro de publicadores por aí, coisas finíssimas mesmo que são melhores e mais seguros do que o Wordpress. Quando a gente estava escolhendo um CMS para o Núcleo, eu pesquisei durante meses para encontrar o que melhor cabia pra gente (inclusive Wordpress), e vou contar essa experiência aqui. 


1. Ghostão da massa

No Núcleo, começamos a publicar usando Jekyll, um sistema de publicação de sites estáticos (ou seja, sem banco de dados por trás) que eu absolutamente adoro, mas certamente não é amigável, escalável nem fácil de criar regras de monetização. 

A gente precisava de algo que fosse o pacote completo: fácil de usar, open source, maleável para construir e fazer deploy, com paywall e pagamentos de assinaturas integrados, simples de hospedar e cheio de recursos sem depender de plugins terceirizados.

Essa busca repetidamente me levou para um CMS: o Ghost (aka Ghostão da Massa).

Não existe publicador perfeito, e o Ghost certamente não é exceção (tem várias coisas nele que ainda me enervam), mas ele, pra mim, é o CMS mais mais próximo do ideal para as necessidades do jornalismo independente, por quatro motivos principais: 

  1. O Ghost usa um recurso chamado Handlebars para compilar o site, o qual facilita a construção de sites muito customizados com pouco esforço (se você sabe programar um pouquinho, como eu). Eu consigo trocar qualquer pixel dentro do site do Núcleo em segundos, sem precisar de desenvolvedores externos;
  2. Enquanto Wordpress há uma constante confusão entre tags e categorias, o sistema do Ghost é orientado apenas por tags. Elas não são apenas elementos para encontrar e classificar, mas também para organizarconteúdos. Olhando de fora parece limitante, mas quando você começa a usar percebe o poder que isso oferece. Aliado aos filtros do Handlebars, dá pra fazer muita coisa;
  3. O publicador é simples e bonito. Embora a interface de gerenciamento do Wordpress tenha melhorado bastante, ela pode ser um verdadeiro labirinto, com um monte de coisas pra ficar mexendo. A equipe que desenvolve o Ghost foi na direção oposta: vamos tornar fácil de publicar posts e páginas, e gerenciar membros e tags, deixando as configurações agrupadas em um espaço separado e fácil de navegar. É uma boa saída para que a equipe se concentre no conteúdo – deixando o resto pros desenvolvedores;
  4. Outro ponto forte do Ghost é sua integração com o sistema de pagamentos Stripe, o que torna insanamente fácil criar sistemas e regras de assinatura. Como o Ghost já oferece logo de cara um sistema de paywall, essa combinação permite a criação de programas de membros sem necessidade nenhuma de desenvolvimento externo. Tá lá, simplesmente pronto;

O Ghost tem muitos outros pontos positivos, mas, pra mim, é a combinação desses quatro elementos que torna o Ghost realmente especial para organizações independentes ou de pequeno e médio portes.

2. Tudo não terás

Quem me conhece sabe que um grande entusiasta do Ghost, inclusive já contribuí com o repositório dele algumas vezes para ajudar a traduzir elementos no código, mas ele não é perfeito.

Nos últimos anos, tive diversas conversas com colegas que queriam saber mais sobre o Ghost e talvez até migrar para ele. Essas pessoas vieram falar comigo impressionadas com o site do Núcleo e com o entusiasmo com o qual eu falo desse publicador. Mas, na hora de pensar no que fazer, elas sempre se voltam para o Wordpress ou algum publicador de código fechado. 

Primeiro porque é difícil achar no Brasil pessoas que desenvolvam sites em Ghost. Embora não seja difícil, a mão de obra desse segmento é escassa porque não tem muita demanda. Como eu mesmo que desenvolvo o site do Núcleo, isso é algo que não me afeta muito, mas para organizações sem alguém interno para isso, é um problema. 

Outra coisa que incomoda no Ghost é que ele não oferece a capacidade de adicionar campos customizados de metadados nas páginas e posts. Vou explicar: para publicar qualquer coisa, você coloca metadados – data, título, subtítulo, autores, slug, tags, imagem de destaque etc. Outros publicadores, como Wordpress, permitem a criação de outras variáveis de metadados, tipo cidade, referências, disclaimers etc. O Ghost não permite isso, esses dados são fixos, e isso incomoda muita gente que quer ter algo excruciantemente customizado.

No começo, achei que isso fosse ser um problema pra mim. Mas, no fim das contas, não faz a menor diferença, qualquer outra informação que eu quiser incluir, eu simplesmente posso colocar ou no HTML ou no corpo do texto. Simples assim. 

Outro limitante do Ghost é que, embora seja excelente sua capacidade de enviar newsletters e emails direto do publicador (tipo Substack), o serviço de disparo de email que o Ghost utiliza, o Mailgun, é incrivelmente caro (80 centavos de dólar pra 1.000 emails) – e ele está tão encruado no cerne do código-fonte que ainda não é possível mudar isso. 

Enviar um email via Ghost para a base da Appetrecho custaria mais de R$5 por envio. Parece pouco, mas o Núcleo tem newsletters diárias que vão pra quase 10 mil pessoas (R$50 por envio, R$250 por semana, R$1.000 por mês). 

Para arrematar, outra coisa que incomoda algumas pessoas é que o Ghost não serve para qualquer coisa. Embora dê para fazer muito, não é possível fazer e-commerce com ele, nem uma rede social, nem uma Wikipédia da vida, nem criar uma grande plataforma de multi-setorial com milhares de funcionalidades (quer dizer, até dá, mas é difícil pra burro). 

Esse é um CMS cujo propósito é editorial.

Se você consegue viver com isso, vai conseguir viver com o Ghost. 


3. Onde encontrar

Self-hosting

Hosting oficial

Uma nota: eu gosto tanto do Ghost que faço parte do programa de referências dele, e quando alguém assina a hospedagem Ghost(Pro) com o meu link, eu ganho comissão de 30% (não custa nada a mais). Então, se você pensa em usar o Ghost hospedado pela própria equipe que o criou, considere usar o meu link abaixo.

Ferramentaria

  • Pika — Desenvolvido pelo pessoal da Good Enough, o Pika é um CMS bem simples e leve que serve pra você publicar seu blog. Não dá pra fazer muita coisa, mas dá pra montar um site bonitinho com muita facilidade por apenas US$6/mês.
  • Listed — Se você vai morar numa caverna e quiser ser ainda mais hardcore na simplicidade (serei eu um dia, garanto!), o Listed é uma boa opção. É a mistura de um app de notas com publicador minimalista.


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