Conteúdo (sintético) até o talo

Meta e OpenAI lançam redes sociais apenas para você compartilhar vídeos gerados por inteligência artificial com seus amigos. Eba, mais conteúdo de IA!

Salve, moçada, beleza? Por aqui estou com uma inflamação cardíaca terrível, cujo nome científico é saudadis mei cachorrums, que aflige especificamente expatriados que precisaram deixar pets pra trás para avançar na carreira durante um ano. Fora isso, tá show de bola, Stanford é um lugar fantástico, não tenho o que reclamar – ainda mais que minha patroa Emily passou 10 dias aqui comigo, o que foi excelente.

Também estou usando direto, tipo todo dia mesmo, meu novo tablet ReMarkable Paper Pro Move, de 7,3 polegadas. É uma delícia escrever e tentar desenhar nele, e, se fosse pra chutar, eu diria que é 83% como usar papel, até o barulho de lápis faz. A arte desta edição da Appetrecho foi feita por mim nesse mesmo aparelho. Eu sei que ficou uma porcaria, meu francês é melhor do que minha habilidade de desenhar. Mas eu me diverti fazendo, capisce?

Não é barato: praqueles que me perguntaram, eu paguei $500 dólares (incluindo uma a caneta melhorada, Marker Plus, e impostos). A versão maior, de 11,8 polegadas, é bem mais cara (um pacote desse sai por cerca de $800).

Confesso que logo depois que efetuei a compra online fiquei me sentindo meio mal de gastar tudo isso num tablet que só tem uma única funcionalidade. Até da pra ler PDFs e Epubs no ReMarkable, mas sinceramente pra isso eu uso outras coisas. Ele é bem diferente, por exemplo, do Boox Note Air3 C (cerca de $500), que roda Android e dá pra acessar a internet e ler Kindle, e que parece bem fera. O rolê dele é escrever.

Mas eu pesquisei muito, vi muitos reviews, posts no Reddit, vídeos comparativos de YouTube. Eu queria algo que fosse me evitar distrações, que tivesse bons reviews, que fosse leve e portátil e, principalmente, que fosse o mais parecido possível com escrever em papel. Posso dizer que estou feliz com a minha compra (infelizmente não vende oficialmente no Brasil).

Novo membro da minha família: ReMarkable Paper Pro Move

Nesta edição #35, sob o risco de ser repetitivo, vou falar sobre como as novas iniciativas da OpenAI e da Meta de ter redes social exclusivamente para compartilhar conteúdo gerado por IA, ideias de merda (do ponto de vista de qualidade) por muitos motivos.


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Entupam-se de conteúdo

Bem antes de a OpenAI lançar o ChatGPT, no fim de 2022, o termo "inteligência artificial" já vinha sendo usado como sinônimo de máquinas cujas capacidades de articulação e comportamentos emulavam as de humanos.

A agora famosa conferência de Dartmouth de 1956, que cunhou o termo, abriu espaço para que esse campo fosse aplicado à ciência da computação, mas a verdade é que há tempos o ser humano pensa em dar vida às coisas, desde Matrix, Blade Runner, Pinocchio e Frankenstein até a Grécia antiga, com Arquitás de Tarento, amigo de Platão, e inventor de um pássaro mecânico (mais sobre isso neste fascinante artigo, em inglês).

A saga da inteligência artificial começou com histórias, não com tecnologias.

Até o ChatGPT, parábolas sobre IA mostravam um mundo de possibilidades, novidades, desafios e até terror. Pós-GPT, inteligência artificial virou sinônimo de commodity digital, marcada por simples transações comerciais nas quais, tal como redes sociais, televisão aberta e redes de fast food, a única coisa que importa é aumentar o volume de produção, transmissão e consumo. É disso que vive e triunfa o capitalismo, afinal. O mistério narrativo da IA foi totalmente dissipado.

Não é por menos que a Meta, o Google, Perplexity, Anthropic, Apple, Amazon e muitas outras empresas que desenvolvem e promovem modelos de IA estão enfiando seus modelos de linguagem em absolutamente tudo: barras de busca, aplicativos de mensagens, caixas de publicação de redes sociais, compras online, etc.

Agora, tanto a Meta quanto a OpenAI lançaram redes sociais (Vibes e Sora, respectivamente) nas quais o objetivo é publicar vídeos gerados com inteligência artificial para compartilhar com seus amigos. Credo.

  • Se você não é assinante, recomendo entrar nesse barco: são R$5/mês ou R$60/ano – e os benefícios vão sendo empilhados à medida que acho mais coisas pra colocar.
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Pode ser exclusivamente minha opinião, falando como alguém que aprecia bom conteúdo feito por humanos, mas tenho dificuldade em enxergar um mercado representativo para pessoas que efetivamente escolham ver vídeos de 10 segundos gerados por um modelo de IA.

Me parece um conteúdo sem propósito, sem alma, sem sabor. Pode até ser visualmente bonito e impactante, mas, exceto para tirar um sarro momentaneamente com seus amigos e amigas, quem é que vai ativamente ficar scrollando um feed cheio de conteúdo sintético.

Lembra quando a Meta lançou sua IA no WhatsApp, que você ficava zuando no seu grupo da escola, ou quando a ferramenta Suno fez algum sucesso ao criar músicas para que você pudesse zoar aquele novo corte de cabelo do seu parça, ou quando era possível gerar imagens de graça com o Midjourney?

Pois é, foi legal e engraçado por alguns dias e, certamente, muitas pessoas (especialmente os mais engajados com esse tipo de tecnologia) viram algum valor nisso e continuaram usando, seja pessoalmente ou até comercialmente. Mas me arrisco a dizer que a grande maioria dos usuários simplesmente voltou a ignorar essas ferramentas e seguiu com suas vidas sem nem pensar nelas de novo.

Eu não estou minimizando o impacto de ferramentas de IA. Eu certamente uso para várias coisas (especialmente programação) e tenho visto pessoas fazendo trabalhos interessantes em várias áreas, tipo amigo meu que lançou uma agência de publicidade que faz campanhas com vídeos gerados sinteticamente. O ChatGPT tem mais de 700 milhões de usuários ativos semanais, não é trivial.

Dito isso, o hype de "ter IA só pra ter" me parece desproporcional ao interesse cotidiano da maior parte das pessoas.

IA usada com propósito é diferente de IA empurrada em produtos apenas para gerar mais ruído sintético em nossas vidas.

Talvez seja por isso que vocês escolham ler esta newsletter (que, modéstia parte, tem mais de 50% de taxa de abertura consistentemente) em vez de ficar condensando conteúdo por aí: tudo o que eu escrevo aqui é feito por mim (se você notou vários erros de digitação na última newsletter isso deve ter ficado claro) – sim, mesmo com travessão, que eu sempre usei e vou continuar usando independentemente do que qualquer detector de IA acusar.

Escrevi na edição passada como, a meu ver, as redes sociais estão corroendo nossos cérebros com muito conteúdo de baixíssima qualidade. Mesmo assim, ainda nos vemos apegados a elas, principalmente porque conseguimos ver o que nossos amigos, familiares e pessoas/páginas de interesse estão publicando (eu, por exemplo, sigo a Rebecca Ferguson e o perfil Kogos Biruta no Instagram).

Ou seja, o lixo está misturado com o bom, e isso, aparentemente, é tolerável para nós. Uma rede só com conteúdo gerado por IA me parece uma rede apenas com lixo.

De novo, posso estar enganado, mas empanturrar-se de conteúdo sintético insignificante está longe do meu consumo de entretenimento e, se você está lendo este texto, há boas chances de não fazer parte da sua dieta também.

PS: Depois que eu escrevi essa newsletter, o comediante Michael Kosta publicou esse vídeo hilário sobre isso no Bluesky (não precisa de login).


Ferramentaria

Nesta edição, a seção foi produzida pelo meu sócio Alexandre Orrico, que aparentemente está apaixonado por um aplicativo.

  • Nautide – Se você quiser checar essas condições do litoral brasileiro todos os dias, esse aplicativo é uma lindeza e está totalmente em português. Numa mesma tela, como num relojinho, ele mostra mais de 20 indicadores, entre eles níveis de maré, direção e potência de vento, qualidade do ar, temperatura da água, ondulação e coeficiente de marés, que indica a amplitude da maré em um determinado dia, ou seja, a diferença entre o nível da maré alta e da maré baixa.
  • Caminhos do Sol (Android e iOS) – Mostra o caminho que o Sol faz desde que nasce até se pôr. Dá pra ver o trajeto do astro-rei no mapa ou usar realidade aumentada, com a câmera ativada, pra ver exatamente onde ele vai aparecer e sumir na praia onde em que você está.

💡
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