O navegador é seu principal app

Utilizo e recomendo o Arc não pelos bons recursos que ele oferece (os concorrentes também têm) mas pela usabilidade proporcionada, principalmente, por sua barra de comando fodástica – uma ferramenta única para esse tipo de app.

Em 2017, três anos após lançar o Volt Data Lab, contratei uma brilhante estudante de estatística para me ajudar em projetos de dados. Renata é o nome dela.

Depois de anos de parceria, em 2023, ela naturalmente partiu para outros desafios, mas não sem antes me deixar uma última colaboração: um convite para a versão pré-lançamento do Arc.

Arc é um navegador de internet consideravelmente diferente do que eu estava acostumado. Diferente visualmente, mas também de usabilidade. Me fisgou logo de cara.

Vou contar um pouco porque esse é meu navegador de escolha atualmente para desktop (embora ainda não seja meu browser definitivo).


1. Default provisório

Há dois tipos de pessoas no mundo: 1. os nerds de navegadores de internet e 2. as pessoas que quase nunca pensam em navegadores de internet (vai no default e amém).

O primeiro tipo está frequentemente imerso na busca por um navegador para governar a todos os outros (e também é aquele que vai me mandar um email justificando como o navegador que usa é melhor do que eu to sugerindo). O segundo tipo tem mais chance de felicidade na vida.

Pode acreditar: eu já testei de tudo.

Meu nível de interesse nesse assunto me assegura de que tenha, a qualquer momento, todos os melhores navegadores instalados no meu computador: Firefox, Opera, Vivaldi, Brave, Safari, Edge (pra Mac) e, claro, Chrome. (Também tenho o Tor, mas isso é outro assunto)

Não uso todos, não sou um psicopata. Mas vira e mexe volto a testar cada um deles só por diversão.

Esses navegadores são bons (sim, até o Edge). A concorrência de browsers é tão acirrada hoje em dia que os recursos e funcionalidades mais poderosos que eles oferecem são muito próximos uns dos outros. (Meu lado jornalista ensaiou falar aqui sobre a importância econômica e concorrencial dos navegadores para as Big Techs, mas vou poupar você dessa vez).

ℹ️ Com exceção de Safari e Firefox, todos os citados são baseados em Chromium – o motor open source desenvolvido pelo Google. Inclusive o Arc.

O que torna o Arc o melhor nesse momento, pra mim, não são tanto os recursos que ele oferece, mas sim a forma com que a informação é organizada e acessada lá dentro.

Porque, no fim, é isso que importa: eu to me lixando se meu navegador web está integrado com Spotify ou se eu posso trocar a cor de fundo do cabeçalho de laranja pra roxo. Eu preciso mesmo é navegar em sites de forma eficiente e rápida.

Em poucas palavra: eu preciso da barra de comando (CMD+T ou CTRL+T) do Arc.

Print da barra de busca do Arc com Google Calendar

2. O poder das barras

Esse é um recurso que eu nunca tinha visto em um navegador de internet. E ele é fantástico, a ponto de quase não precisar usar mais o mouse.

Com ele, consigo acessar qualquer mecanismo de busca sem precisar visitar um site, alterar defaults ou nem mesmo clicar em um botão. Eu posso fazer uma varredura dentro do meu calendário do Google, ou mesmo realizar um prompt para os chatbots da Perplexity ou da OpenAI, por exemplo.

Print da barra de busca do Arc com ChatGPT

A partir dessa barra de comando também posso encontrar outros atalhos, vasculhar meu histórico e também alternar entre abas sem precisar ficar tentando adivinhar onde estão.

Pode parecer trivial, mas isso me economiza muito tempo e cliques, e agora me vejo sempre usando CMD+T para fazer qualquer coisa dentro do Arc.

Print da barra de busca do Arc com histórico de navegação

Como usuário hardcore de computador, esse tipo de acessibilidade rápida tem muito valor pra mim. Os segundos e a carga mental que me economizam valem a pena no fim das contas.

Além da ferramenta de comando, outra coisa fera do Arc é a barra lateral. Sidebar é um sistema antigo de visualização, mas que foi muito bem implementado nesse caso. 

O sidebar do Arc conta com três camadas de organização:

  1. No topo ficam os super favoritos: uma série de até 12 sites que ficam pinados no lugar mais premium da tela;
  2. No meio, os mezzo favoritos: aqueles sites que é sempre bom ter à mão;
  3. Embaixo fica a navegação normal, do dia a dia, a qual inclusive você pode colocar um limite de tempo pra ela fechar sozinha (eu coloco 14 dias, porque se a aba tá aberta faz duas semanas e eu nunca mais voltei pra ela, não era pra ser). Inclusive, usando IA, o Arc conseguir organizar suas abas pra você em seções temáticas, se você quiser.
Print da tela toda do Arc
Exemplo da minha tela do Arc enquanto escrevo este texto.

Eu gosto da forma que essa organização é feita em uma sidebar. Quando você precisa da sua tela cheia, só apertar CMD+W que ela vira largura completa ou vice-versa. Sem segredo, sem dor, sem usar o mouse.

O Arc tem ainda outros recursos legais e que uso consideravelmente, como possibilidade de múltiplos perfis (um pro trabalho, um pessoal, um pro frila, etc.), customização visual e de cores, modo desenvolvedor, arquivamento de abas e organização sistemática de downloads e mídias.

Mas eles são tão similares ao que outros navegadores de ponta fornecem que nem vale a pena entrar muito em detalhes. Mas estão lá para serem usados, e eu certamente faço bom uso.


3. Perfeito, não é

O Arc tem algumas questões a serem considerada: por ser baseado em Chromium, o Google detém significativo controle sobre o desenvolvimento e APIs (acesso a dados e recursos) desse framework, o que impede, muitas vezes, que produtos construídos em cima disso possam ir além das regras da Big Tech. A bola é dela, e se ela quiser ela leva pra casa.

Outro problema do Chromium é conhecido: ele come uma parcela considerável da memória RAM (de curto prazo) do computador. O Arc não é diferente. Pode fazer pouca diferença pra alguém rodando um Macbook Pro de última geração, mas pra quem tá fazendo valer com aquele HP Pavilion de 2015 o cenário é tenebroso.

Também preciso dizer que eu não gosto muito do Arc no celular. Não que seja ruim, mas o app móvel do Arc tentou ser diferentão demais, e isso veio a um custo da usabilidade. Embora fique tudo lindamente sincronizado com o desktop, ainda não me acostumei no celular a ficar alternando entre abas e perfis diferentes com a mesma destreza que faço no computador, a ponto de que simplesmente às vezes é mais fácil usar o Safari.

Por fim, talvez venha aí um banho de água fria: na semana passada o CEO da Browser Company, Josh Miller, anunciou que a empresa está trabalhando em um novo produto, o qual “não tenho nem certeza de que é um navegador de internet”.

Ou seja, em vez de trabalhar para melhorar o Arc, a empresa vai dar um tempo nos novos recursos e vai se concentrar nessa nova coisa que querem fazer. Diz Miller que o navegador vai continuar existindo, mas a comunidade do Arc no Reddit está puta da vida com isso. 

Não sei o que achar disso ainda, mas é algo a se considerar antes de fazer o investimento emocional num navegador novo.


4. As dores de um novo browser

Navegadores de internet são uma parte inescapável do uso de computadores e celulares hoje em dia, e detém real poder sobre a nossa experiência online, mesmo que a gente não pense muito nisso.

Pode ser legal testar algo novo, ver se se encaixa no seu dia, se ajuda a melhorá-lo, nem que seja só um pouquinho. Mas também sei que mudar de navegador de internet pode ser uma tarefa difícil e trabalhosa, que exige tempo de configuração e adaptação.

Se você tem disposição para experimentar, este é o link do Arc – arc.net


Ferramentaria

Ilo.so — é um aplicativo web muito interessante (embora simples) para agregar analytics de diversos lugares diferentes (X, TikTok, YouTube, Ghost, Stripe etc.). Troquei emails com seu criador, Dan Rowden, que me disse que muitas novas integrações virão (como Bluesky e Buttodown). Eu tive sorte de ter comprado uma licença vitalícia uns anos atrás numa promoção.

Mimestream – é um app de Gmail nativo para Mac. Eu realmente não me dou bem com o app original de emails da Apple, e tampouco com outras opções como Thunderbird. O Mimestream veio para ser uma versão quase idêntica (na usabilidade, não no visual) a usar Gmail no navegador.



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